terça-feira, setembro 04, 2007

Uma mulher de fibra

Com determinação, ela se tornou uma mulher independente e dedicada ao filho e trabalho.
Mãe, ética e obstinada. É assim que Denise Gianoglio se define. Nascida em 27 de janeiro de 1966 a aquariana é uma mulher de aparência calma, porém, de personalidade forte. Viveu sua infância na Rua Joaquim Távora, em Santo André, São Paulo, junto de suas irmãs Carla, 42, e Maria Cristina, 44.
A primeira paixão de Denise foi aos 17 anos. Ela lembra com um sorriso no rosto que chegou a reencontrar esse amor anos mais tarde, mas já estava em outra. "O cara era um espetáculo. Tinha uns 27 anos, era o homem mais desejado do planeta e obviamente não me deu a menor bola. Me tratava como um bebê. Eu implorava um beijo, convidava pra sair e ele queria me dar conselhos, é mole?". Denise se casou por amor com Ricardo Vinhas, no dia 15 de junho de 1991. Com ele teve Lucas, hoje com 11 anos. Infelizmente a relação não deu certo. Ela decidiu ir embora de casa e levar o filho junto.
Atualmente, não tem uma relação muito boa com o ex- marido. "Não é que eu não acredite em casamento, mas acho que paixão tem um prazo de validade". Ela namora um jornalista da Editora Abril, mas se nega a revelar o nome dele. Por criação, Denise não coloca seu filho em contato com o namorado. "Acho ruim fazer o Lucas se acostumar com alguém e depois tirá-lo da pessoa. Se eu resolver me casar novamente, aí sim". O pequeno Lucas tem seus amigos, escola, tudo em Santo André. Ela diz que prefere se sacrificar a deixar o garoto longe da realidade dela: "Acho melhor trabalhar longe de casa, mas sabendo que ele tem a companhia da minha mãe, da minha irmã e dos amigos. Se a gente se mudasse para perto do meu trabalho eu teria que deixá-lo com uma babá, o que não seria nada legal". Denise tem orgulho do filho. "Ele é meu companheiro, pergunta tudo que tem curiosidade sem a menor vergonha, coisas que ele não fala nem para o pai". Lucas quer seguir a carreira de engenharia ou arquitetura, mas ela diz que o garoto ainda é muito novo e provavelmente irá mudar sua opção. "Só não vou escolher Jornalismo por ele. Quero que ele faça o que curte", afirma.
A separação de Denise foi dura como qualquer outra. Teve que assinar os papéis judiciais em 22 de dezembro de 2000, próximo ao Natal. Meses depois, encarou o falecimento de seu pai: "Essa fase foi muito difícil pra mim, mas me trouxe muito amadurecimento. Minha mãe, Ivani Gianoglio, ficou sem chão, pois sempre foi uma mulher submissa ao meu pai. Ainda bem que ela conseguiu superar e hoje sai com as amigas viúvas dela. Se tornou uma pessoa descolada".
Mulher de personalidade, mostrou que coloca seu filho em primeiro lugar, mas que ele não é um menino mimado: "Meu ex-marido não concorda com a educação que dou ao Lucas. Ele diz que eu o deixo comer muitas bobagens que não deveria e que ele tem que tirar só notas dez na escola. Eu não sou assim. Deixo o meu filho seguir a vida dele e deixo ele comer o que toda criança gosta". Ela conta que quando pequeno seu filho questionava do por que ela ia trabalhar, ela sempre dizia: "Porque a mamãe gosta".
Denise demonstra fazer seu trabalho com carinho e mesmo no horário de almoço se dispõe a atender parceiros do Rio de Janeiro sobre matérias para a revista que trabalha, a Contigo.
O caminho para a profissão escolhida
A jornalista se formou há 20 anos na faculdade Metodista. Morou a vida toda no Grande ABC, onde conheceu seu grande amigo, Edson Rossi. "Rossi estudou comigo, mas ficamos amigos mesmo no jornal do Diário do Grande ABC. Do mesmo jeito que ele me considera, eu o considero. Acho ele um puta jornalista".
Suas irmãs fizeram carreiras ligadas à saúde, mas ela contrariou a tradição da família, inclusive a vontade de seu pai, e acabou escolhendo o curso de Jornalismo. Walter Gianoglio, um italiano machista, não apoiava sua decisão. Achava que Jornalismo não era carreira para mulher decente. Denise não desistiu. Vendia suas coisas para pagar a mensalidade da universidade e seu primeiro emprego para melhorar sua renda mensal foi como Office-girl. “Esse trabalho era uma droga. Tinha de passar em meia dúzia de agências bancárias todas as tardes com uma pasta de documentos para pagar. Odiava aquilo. E morria de vergonha quando encontrava alguém conhecido. Em dias de chuva, então, era humilhante. Mas nem por isso deixava de ir toda arrumadinha, com o cabelo legal e roupa de moda”. Logo no segundo mês, fez uma rede de amigos nos bancos. Passava e deixava o pacote de cada banco com o caixa camarada e na volta pegava tudo autenticado, assim, não enfrentava fila. Ainda assim, Denise consegue ver o lado bom dessa experiência: “Eu sempre acabava passando em alguma loja no centro da cidade para dar tempo de voltar em cada banco e pegar o trabalho pronto. Bem, todo Office-boy faz isso. No meu caso, acho que era um pouco mais fácil por ser mulher e estudante de jornalismo. Os caixas me amavam”, conta sorrindo. Ser moto-girl envolve jogo de cintura e isso é o que não falta para ela que, muitas vezes, sentiu medo em fazer esse serviço: “Eu tinha um pouco de medo de assalto. Às vezes eu voltava dos bancos a pé com dinheiro na pasta. Dá pra acreditar? Era uma outra época, é verdade, mas dava um certo medo de alguém ter visto eu pegar a grana no caixa e me seguir. Trabalhar assim hoje, seria um absurdo. Mas durou só alguns meses, depois, fui promovida e passei a fazer trabalhos internos”.
Sua vida foi melhorando, até que conseguiu uma amiga que trabalhava no jornal do Diário do Grande ABC. Seu pai também trabalhava lá, mas não quis ajudá-la. Depois de convocada para alguns testes, acabou conseguindo o emprego tão desejado. O primeiro encontro que ela teve com o seu pai foi logo na sala do RH: "Ele me viu e eu não consegui dizer nada. Só mostrei o meu crachá". Aos poucos, Denise foi se destacando no jornal e, quando atingiu o cargo de editora-chefe, ganhou o respeito de Walter, que finalmente sentiu orgulho da determinação de sua filha.
Em São Paulo , Denise trabalhou em duas assessorias de imprensa diferentes, mas a mudança mais brusca em sua vida foi quando Edson Rossi reapareceu em seu caminho e a convidou para trabalhar ao lado dele e transformar a popular revista Contigo em uma revista para a classe A e B. "Todos acharam que eu era louca de aceitar esse trabalho, sendo que eu tinha um cargo ótimo no jornal. Mas para mim foi um desafio". Trabalhou ao lado de Rossi durante um ano e dez meses como redatora-chefe, onde está atualmente. Na Editora Abril já trabalha há dois anos e diz: "A carreira é muito corrida. Mas a credibilidade de dizer que se trabalha aqui é muito importante. Faz você sair na frente dos outros veículos".
O trabalho na prática
Segunda-feira, dia de fechamento na Contigo. Denise mal consegue atender ao telefone para me autorizar a subir. Às 10h da manhã ela já se concentra em escolher a melhor capa para a próxima edição junto ao seu novo diretor de redação, Felix Fassone. O pessoal da arte e a redação está se movimentando. Acessam a cada minuto sites como Glamurama e Babado para saber se os temas da Contigo já não foram publicados por alguém. Denise quase não pára sentada, ficava rondando o trabalho dos quatro repórteres e dos sete editores de arte para decidir quais as melhores fotos para cada matéria. Finalmente, entre os 25 profissionais, somente alguns decidem juntos a capa: O novo amor de Ana Paula Arósio (o fotógrafo Pablo de Sousa) . O recheio da revista terá fotos da Angélica com o filho Joaquim, representando o dia das mães, e uma matéria com o affair de Suzana Vieira que, por sinal, causou um certo rebuliço na redação: - “Vamos chamar de um namoro bem diferente. Temos uma mulher sessentona e um namorado de trinta”, disse um dos repórteres que não esqueceu de detalhar a idade dos dois. - “A questão etária não importa”, alega Denise, tirando a idade dos dois da chamada da matéria porque, para ela, isso soava como preconceito. Mais tarde no fechamento, ela volta à carga: - “Acabo de descobrir que Suzana REALMENTE ama esse cara”, afirma Denise para Félix, o novo diretor da redação. - “Sério? Como você soube disso?”, pergunta Felix, que até dias antes trabalhava na redação da revista Tititi. - “Falei com uma amiga dela. Impressionante!” Sempre bem humorada, Denise está disponível para esclarecer dúvidas e vê na tela de seu computador cada detalhe, cada palavra usada na edição com cuidado extremo. Mesmo trabalhando com o mundo das celebridades, Denise assume: “Já conheci todas as estrelas e nunca gostei de nenhum deles”. Mesmo assim, ela mantém a credibilidade da revista e apura muito bem os fatos antes de publicá-los. “Pode ter certeza que com o apoio dos repórteres do Rio de Janeiro, temos informações verídicas na Contigo atual”. Tudo em sua vida foi repentino: "Do mesmo jeito que decidi fazer jornalismo do dia para a noite, larguei meu ex-marido, fiz as minhas malas e as do meu filho e fui embora. Dormi na primeira noite na casa da minha irmã até conseguir um apartamento, mas vivi muito bem", conta Denise, demonstrando que nunca se arrependeu de suas decisões. Atualmente, sua meta de vida é ajudar seu filho a se encontrar no mundo. Ela quer dar suporte ao Lucas, que está prestes a entrar na adolescência, para que ele saiba brigar por sua própria felicidade e que consiga ser um adulto legal. Para si mesma, deseja aprender a dividir sua vida com alguém, rir e viajar mais. No jornalismo, quer melhorar o número de leitores e faturamento da Contigo e talvez conquistar a direção de algum projeto da própria Editora Abril. Denise, com seus cabelos de cor clara, olhos azuis, estatura por volta de 1,67m e sorriso constante no rosto, é uma pessoa mutante. Muda todos os anos de apartamento, mas sempre na região do ABC. O que ela não pode mudar é o amor pelo seu filho e o futuro que enxerga para os dois.
Camila Nobre, 21 anos, estudante de Jornalismo do UniFiamFaam Centro Universitário. Já trabalhou em assessoria de imprensa, redação da Veja São Paulo e atualmente trabalha na agência de publicidade F/NAZCA SAATCHI & SAATCHI.