DO ESCONDE-ESCONDE À ÉPOCA MILITAR
Uma história que tem Arnon de Mello como personagem
Apesar de ter vivido na época militar e tido que trabalhar desde menina, Francisca Nobre de Oliveira se considera uma pessoa feliz. Morou em Maceió quando pequena, tinha quatro irmãos e ela era a mais velha. Antes de seu nascimento (em plena época da Revolução de 30), quando sua mãe soube da gravidez, foi a maior alegria para seu pai, que já havia perdido duas crianças antes dela.Suas brincadeiras eram iguais as de hoje: esconde-esconde e pega-pega e nunca teve animais de estimação, pois sua mãe, Sebastiana Nobre dos Santos, não gostava. Perdeu seu pai cedo, mas pela competência de sua mãe nunca faltou o que comer: “Considero minha mãe minha heroína, ela sempre dava um jeitinho de colocar comida no prato”. Ajuda financeira, depois da morte de seu pai, veio do Arnon de Mello, pai do Fernando Collor de Mello. Ela era pequena, mas pelo que lembra, tudo era feito “por baixo dos panos”, afinal, apesar de toda a família Collor ser muito simpática, o interesse verdadeiro era conquistar votos nas épocas de eleição. “Tiveram algumas vezes que os militares passavam com aviões bem próximo a nossa casa, fazendo um barulhão, só para nos pressionar, para que não mudássemos de candidato”.Ela conta que antes de Getúlio Vargas ser presidente, o trabalho era de 10 a 12 horas seguidas. “Ninguém tinha direito a nada, era um problema pedir ao chefe até para ir ao médico!”, afirma.Ela relembra os fatos da época de Vargas com muita dor, mas faz questão de mostrar como a população sentiu sua falta quando ele se foi: “Bem me lembro de como foi a morte de Getúlio. Todo o comércio parou e ninguém podia dar uma só palavra sobre o assunto para não se tornar suspeito; mas eu ainda tenho minhas dúvidas de que ele se suicidou...”, relembra Francisca.Começou a trabalhar aos 13 anos em uma fábrica de coco. Quando a aceitaram para o trabalho, adiantaram a idade dela para que ela pudesse trabalhar. Quando veio para São Paulo, em 1952, com esperança de ganhar mais dinheiro, fez um teste para entrar no Laboratório Lepetit: “O teste era para dobrar bulas de remédio. Eu fiz tudo bem rápido e sem experiência nenhuma. Foi assim que me contrataram. No trabalho, eu tinha que usar máscara e o cabelo preso para poder embalar os remédios”, conta.Nesse laboratório foi onde ela adquiriu mais experiência. Trabalhou lá durante nove anos; na verdade só parou porque conheceu o homem com que ela passaria o resto de sua vida: Silvano Menezes de Oliveira. “Uma cigana que eu fui uma vez em minha adolescência já havia previsto tudo aquilo que estava acontecendo em minha vida.” Naquela época, homem que era homem não deixava a mulher trabalhar e por isso ela desistiu de seu emprego. “Antes era muito mais fácil arrumar trabalho, hoje em dia, até professor é desvalorizado. Tempo bom era o governo Juscelino. Ele era um político muito educado e investia no país. Cheguei a conhecer os filhos dele, uns amorzinhos.” Depois de seu emprego no laboratório, Francisca foi assistente em duas escolas públicas; ela sempre gostou de ajudar pessoas humildes e com isso conseguiu muitas amizades verdadeiras.Com Silvano, ela teve quatro filhos: Walter, Vilma, Valmir e Valdir. Francisca ainda cuidou de sua afilhada, Jandira, que ela considera como filha. “A Jandira morava na Bahia, mas veio morar comigo para tentar a vida. Sempre foi uma boa menina, nunca me trouxe problemas”. Aos 73 anos de idade, Francisca diz que nunca se arrependeu de nada do que fez, mas sim das coisas que ela deixou de fazer, como, por exemplo, adotar uma criança: “Acho que a adoção é um gesto muito bonito e deve ser incentivado.”Sobre seus filhos ela fala com orgulho; conta que admira muito o caráter deles, que eles sempre foram muito inteligentes e trabalhadores, assim como seu marido, que faleceu em julho de 2001 de enfarto fulminante. Hoje em dia, ela é muito ocupada. Freqüenta uma academia duas vezes por semana, vai à faculdade para a terceira idade, onde pratica diversas atividades, como dança e canto e sempre ajuda seus vizinhos do bairro Jardim Miriam em tudo que pode. Muitos alunos da antiga escola onde ela trabalhava sentem sua falta e a procuram sempre que possível. Sem dúvida, muitas pessoas conhecem essas histórias e jamais vão esquecer do bom caráter de Francisca, que continua espalhando o bem por onde passa.
http://www.morumbionline.jex.com.br/unifiam+faam+digital/do+esconde-esconde+a+epoca+militar
Redigido em 2003 por Camila Nobre
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